Seria apenas um dia agradável, com
pessoas que supostamente por algum motivo tinham afinidades incomuns, ou perto
disso. A Louca nunca bebe, tem aversão a bebidas alcoólicas, embora
praticamente todos os fins de tarde toma um bom copo de vinho.
Os amigos têm um fascínio pelo
temperamento esdrúxulo dela. Não é bipolar, fato. Mas a personalidade é forte.
Às vezes gosta de gente por perto, outras não. Irrita-se facilmente. Se acha
imbecil, generosa, bondosa de coração e arredia em terrenos alheios. É
arrogante quando a situação requer. É tímida, embora não pareça. Já me disse
que o seu espírito é livre! Está ai, liberdade de espírito é para poucos!
Fui apresentada à Louca por amigos de amigos.
Véspera de feriado, reunimo-nos na casa
dela. Aparentemente encontrava-se num dia bom. Tranquila, serena ao redor de
gente bacana - gosta das pessoas em sua residência, embora não seja uma boa
anfitriã, dessas tradicionais. Ao todo sete pessoas, quatro homens e três mulheres.
Eu, uma delas.
Google imagem meramente ilustrativa |
Percebo que um dos convidados é uma reencarnação
“superior” na terra de deus. Ar discreto, conversa diferente. Aparentemente
possuidor de uma intelectualidade qualquer.
No outro ponto, percebi que a
anfitriã bebia lentamente o seu vinho. Inclusive notei que antes da embriaguez
dela – um porre que ficará na história da vida dela, alguns dos convivas tinham derramado vinho no
chão, nas roupas e até na toalha da mesa antes mesmo do jantar estar servido. Como
não tem costume em beber, não percebera o seu próprio nível alcoólico, lógico.
O tal beber e bloquear a passagem de oxigênio para o cérebro, é verdade! Quem bebe é impossibilitao de ver aquela linha
que separa os limites, o bom senso. A louca bebeu muito, e deu vexame!
Acordou dez horas depois com lapsos
de amnesia. Só tinha certeza de algo: o porre foi de lascar. Sem noção do que tinha
acontecido, sentiu-se péssima, horrenda, chateada consigo mesma, com vergonha,
uma estúpida, um lixo. Todos os convidados da festa recebeu um email dela se
desculpando. Com exceção do aparelho celular que arremeçou no ar, tudo era uma icógnita,
para o desespero dela. Me disse brevemente que um ódio latente às vezes
ressurgia como um vulcão adormecido - causado principalmente por algumas mortes
de parentes próximos.
O “superior” saiu da casa perturbado
e magoado sem entender o “que se passa?”,
pela falta de educação da anfitriã -
informaram-na que o tinha entregue à Judas na noite anterior. O convidado
recebeu a descarga elétrica da raiva acumulada. Seguramente deus nunca mais se colocará em um caldeirão mix...
Um baita problema foi instalado, e
pior do que criá-lo, é não lembrar quando o mesmo iniciou, e não ter consciência
até que ponto o problema é um problema para o outro. Um e-mail diferenciado com um real pedido de sorry chegara até ele. Mas o destinatário, ao que tudo indica não
falará mais sobre o assunto nem para dizer-lhe um “vai a merda idiota”, ou “esqueça o que me fez”.
Ignorá-la e odiá-la por um bom tempo
devem ser o consolo do próprio orgulho ferido, ou da falta de capacidade em entender quem é
ou age diferente de nós. Lembrei-me de
algo que li dias desses: “O primeiro a pedir desculpa é o mais corajoso. O
primeiro a perdoar é o mais forte. E o primeiro a esquecer é o mais feliz”.
Como convidada causou-me estranheza a
relutância à aceitação ao pedido de desculpas, partindo do princípio, que todos
nós estávamos ali para beber, extravasar, pôr a conversa em dia, e se não temos
a tolerância para as “loucuras” de um
porre de alguém, que espécie de pessoas somos?